Sabe quando você está naquela fase meio que inferno astral? Nada dá certo, seus planos vão por água abaixo, você briga com sua família todo dia, mal tem tempo pra estar com quem gosta, o trabalho é um saco, nada presta na TV, no rádio ou na internet, cansou da vida que anda levando... Dizem que o inferno astral “de verdade” acontece no mês antes e no mês depois do seu aniversário (vai entender a lógica dos astrólogos...), mas na maior parte das vezes essas coisas acontecem quando você nem lembra que dia você nasceu, nem mesmo que você faz aniversário. Nessas situações, poucas coisas conseguem fazer seu dia melhor. Para nós mulheres uma coisa é quase infalível: chocolate. Mas bom mesmo são os amigos.
Você pode até pensar: não, prefiro estar com meus familiares. Não creio que isso seja tão certo. A chance de você discordar e brigar com algum parente (principalmente quando seu equilíbrio não está 100%) é maior que a de brigar com um amigo. Um raciocínio simples e clichê ajuda a lembrar que você nasceu nessa família por acaso, por isso pode não se dar tão bem com ele como você gostaria, já seus amigos... Vocês até podem ter se conhecido por acaso, (o que deve ser descartado em Belo Horizonte, onde só existem 3 pessoas), mas não foi por acaso que durante meses e anos vocês continuaram se vendo, saindo e se divertindo juntos. E a não ser que você esteja rodeado de pessoas do mais alto grau de falsidade (ou até mesmo seja uma delas), vocês curiosamente se chamam de amigos.
Em geral, apenas ter a oportunidade de estar com eles já muda seu humor. O dia pode estar todo errado. O céu tão cinza quanto o dos mais típicos dias londrinos. A pia da cozinha pode entupir e seu cachorro rasgar o sofá novo. Você simplesmente pensa porque saiu da cama naquela manhã. Receber o telefonema de um amigo muda as coisas. Por alguns minutos que seja você esquece aquele monte de coisas dando errado, além das tarefas atrasadas em todos os níveis possíveis.
A segunda-feira chega e você está enterrado no seu quarto depois de uma noite agitada na qual as únicas coisas que aconteceram foram você ter arrumado mais contas pra pagar e uma bela dor de cabeça de tanto ter bebido. Amigos pressentem situações assim e quando você menos espera um deles já está na portaria do seu prédio pra te fazer companhia. Ou, ainda que ninguém tenha aparecido, observar a foto deles pendurada na parede já te deixa mais animado.
É uma quarta-feira e você não acredita que a semana ainda está no meio. Por algum motivo está extremamente cansado e não suporta a ideia de ter que ir trabalhar. Enrola um pouco mais do que deveria na cama, desejando ter simplesmente perdido a hora. O chá de toda manhã já está esfriando, mas você não encontra ânimo nem mesmo para bebê-lo. Olha o relógio em cima da porta e respira profundamente ao pensar que perdeu o ônibus. É, o dia tem grandes chances de ser um inferno. Finalmente chega ao trabalho e obrigações e prazos começam a ser estipulados. Tem vontade de jogar as pilhas de papel pela janela, mas lembra que trabalha em um lugar sem janelas, apenas ar condicionado, o que só piora seu dia, já que não levou nenhuma blusa para se proteger da temperatura constante de 16ºC. Depois de vários colegas comentarem que deveria ir pra casa, pois está muito cansado para render como deveria, você sai do trabalho e não acredita na chuva que está caindo. Claro, o guarda-chuva está em casa. Tem uma sensação estranha de estar esquecendo mais alguma coisa.
Molhando todo o hall de entrada e as escadas, finalmente está na porta de casa. Huuuum... Que cheiro bom! Deve ter festa no vizinho hoje. Enquanto isso você vai ficar assistindo jornal e seriados na televisão, até porque está muito cansado pra pensar em qualquer outra possibilidade. Abre a porta. Várias vozes conhecidas gritam, cantam parabéns, alguém chega com uma toalha e você é abraçado pela sua namorada. Sim! Esqueceu seu aniversário, mas seus amigos não. Estão todos lá, todos que você verdadeiramente chama de amigo. Seus irmãos também te abraçam e, por último, seus pais aparecem. No meio da confusão alguém grita: “Discurso!” e é acompanhado por todo o resto. Pensa, pensa, mas uma única coisa insiste na sua cabeça. “Hoje meu dia foi péssimo. Acordei cansado, perdi meu ônibus, o trabalho estava... acho que não preciso comentar, peguei chuva, esqueci meu próprio aniversário. Só queria agradecer a vocês por fazerem parte da minha vida e fazer dela algo muito bom sempre! Muito obrigado!”. Entre um salgadinho e um copo de refrigerante (preferiu não abusar) observa as pessoas em sua casa e conclui que sim, apenas a presença deles já faz de qualquer dia o melhor de sua vida.
Baseado em: Thank You, da cantora Dido. Compositor não encontrado. Faixa 6 do disco No Angel, de 1999.
Escrito em: 17 de junho de 2010.
Revisado por: Jú Afonso (http://eumundoafora.blogspot.com/)
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Dido - Thank You from Esteban Guerrero on Vimeo.
...já tava falando "put... , esqueci o aniversáario da Sah, q mancada..." huahuaha
ResponderExcluirei Sarinha!
ResponderExcluiradorei o conto. nunca tinha pensado nessa musica por esse angulo. gostei tb da expressao "inferno astral"
vc eh uma gde amiga! estar com vc realmente me alegra. esse seu jeito Miranda de ser...
Bjus
Nossa Sarinha, belo texto. Me identifiquei muito com ele - e acho a música uma gracinha aliás! me fez lembrar antigos tempos, quando eu escutava ela e outras músicas da Dido.
ResponderExcluirAh, aliás, lembrei de você esses dias. Achei uma Rolling Stone no meio das minhas coisas, pensei nos jornalistas que escrevem a revista e pensei que você vai estar lá daqui uns anos haha!
um grande abraço!
xandão
Nossa Sarinha, que visão foi essa da música! Vc falou coisas tão simples e que são tão verdade... gosto muito disso nos seus contos: vc consegue traduzir direitinho situações em palavras.
ResponderExcluirMorro de orgulho de vc, caloura =)
Tá de parabéns denovo!
Saudade!!!!
Beijão!
Que beleza de titulo heim?!
ResponderExcluirE, como todo mundo já disse: adorei um conto!
Um dos meus preferidos, eu acho! Tanto pela estrutura do texto quanto pela ideia. Tbm nunca tinha poensando na musica por esse angulo...
Beijos nega!