21.6.10

Fazendo um dia melhor

Sabe quando você está naquela fase meio que inferno astral? Nada dá certo, seus planos vão por água abaixo, você briga com sua família todo dia, mal tem tempo pra estar com quem gosta, o trabalho é um saco, nada presta na TV, no rádio ou na internet, cansou da vida que anda levando... Dizem que o inferno astral “de verdade” acontece no mês antes e no mês depois do seu aniversário (vai entender a lógica dos astrólogos...), mas na maior parte das vezes essas coisas acontecem quando você nem lembra que dia você nasceu, nem mesmo que você faz aniversário. Nessas situações, poucas coisas conseguem fazer seu dia melhor. Para nós mulheres uma coisa é quase infalível: chocolate. Mas bom mesmo são os amigos.

Você pode até pensar: não, prefiro estar com meus familiares. Não creio que isso seja tão certo. A chance de você discordar e brigar com algum parente (principalmente quando seu equilíbrio não está 100%) é maior que a de brigar com um amigo. Um raciocínio simples e clichê ajuda a lembrar que você nasceu nessa família por acaso, por isso pode não se dar tão bem com ele como você gostaria, já seus amigos... Vocês até podem ter se conhecido por acaso, (o que deve ser descartado em Belo Horizonte, onde só existem 3 pessoas), mas não foi por acaso que durante meses e anos vocês continuaram se vendo, saindo e se divertindo juntos. E a não ser que você esteja rodeado de pessoas do mais alto grau de falsidade (ou até mesmo seja uma delas), vocês curiosamente se chamam de amigos.

Em geral, apenas ter a oportunidade de estar com eles já muda seu humor. O dia pode estar todo errado. O céu tão cinza quanto o dos mais típicos dias londrinos. A pia da cozinha pode entupir e seu cachorro rasgar o sofá novo. Você simplesmente pensa porque saiu da cama naquela manhã. Receber o telefonema de um amigo muda as coisas. Por alguns minutos que seja você esquece aquele monte de coisas dando errado, além das tarefas atrasadas em todos os níveis possíveis.

A segunda-feira chega e você está enterrado no seu quarto depois de uma noite agitada na qual as únicas coisas que aconteceram foram você ter arrumado mais contas pra pagar e uma bela dor de cabeça de tanto ter bebido. Amigos pressentem situações assim e quando você menos espera um deles já está na portaria do seu prédio pra te fazer companhia. Ou, ainda que ninguém tenha aparecido, observar a foto deles pendurada na parede já te deixa mais animado.

É uma quarta-feira e você não acredita que a semana ainda está no meio. Por algum motivo está extremamente cansado e não suporta a ideia de ter que ir trabalhar. Enrola um pouco mais do que deveria na cama, desejando ter simplesmente perdido a hora. O chá de toda manhã já está esfriando, mas você não encontra ânimo nem mesmo para bebê-lo. Olha o relógio em cima da porta e respira profundamente ao pensar que perdeu o ônibus. É, o dia tem grandes chances de ser um inferno. Finalmente chega ao trabalho e obrigações e prazos começam a ser estipulados. Tem vontade de jogar as pilhas de papel pela janela, mas lembra que trabalha em um lugar sem janelas, apenas ar condicionado, o que só piora seu dia, já que não levou nenhuma blusa para se proteger da temperatura constante de 16ºC. Depois de vários colegas comentarem que deveria ir pra casa, pois está muito cansado para render como deveria, você sai do trabalho e não acredita na chuva que está caindo. Claro, o guarda-chuva está em casa. Tem uma sensação estranha de estar esquecendo mais alguma coisa.

Molhando todo o hall de entrada e as escadas, finalmente está na porta de casa. Huuuum... Que cheiro bom! Deve ter festa no vizinho hoje. Enquanto isso você vai ficar assistindo jornal e seriados na televisão, até porque está muito cansado pra pensar em qualquer outra possibilidade. Abre a porta. Várias vozes conhecidas gritam, cantam parabéns, alguém chega com uma toalha e você é abraçado pela sua namorada. Sim! Esqueceu seu aniversário, mas seus amigos não. Estão todos lá, todos que você verdadeiramente chama de amigo. Seus irmãos também te abraçam e, por último, seus pais aparecem. No meio da confusão alguém grita: “Discurso!” e é acompanhado por todo o resto. Pensa, pensa, mas uma única coisa insiste na sua cabeça. “Hoje meu dia foi péssimo. Acordei cansado, perdi meu ônibus, o trabalho estava... acho que não preciso comentar, peguei chuva, esqueci meu próprio aniversário. Só queria agradecer a vocês por fazerem parte da minha vida e fazer dela algo muito bom sempre! Muito obrigado!”. Entre um salgadinho e um copo de refrigerante (preferiu não abusar) observa as pessoas em sua casa e conclui que sim, apenas a presença deles já faz de qualquer dia o melhor de sua vida.


Baseado em: Thank You, da cantora Dido. Compositor não encontrado. Faixa 6 do disco No Angel, de 1999.

Escrito em: 17 de junho de 2010.

Revisado por: Jú Afonso (http://eumundoafora.blogspot.com/)


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Dido - Thank You from Esteban Guerrero on Vimeo.

6.6.10

Bonzinho só se fode

Era uma vez uma garota conhecida por arrasar corações por onde passava. Usava e abusava de quem cruzasse seu caminho e se divertia sendo má assim. Até o dia em que se envolveu com um homem diferente que disse (e fez) abertamente tudo o que ela mais temia.

A estratégia dela, nada muito complexo, era fazer-se de apaixonada nos casos mais interessantes, usar todo um jogo de caras e bocas, palavras milimetricamente escolhidas, modelitos muito bem calculados, além da pose exigida pela situação. Construía e usava a personagem perfeita até que enjoasse da vítima em questão, o que, claro, só acontecia depois de ver o alvo aos seus pés, ao ponto de ouvi-lo dizer que ela era a mulher perfeita e tudo mais a que tinha direito.

O carinha especial apareceu na vida dela por meio da irmã. Aquele foi um caso rápido, sem qualquer sucesso ou importância para nenhum dos dois, que havia acontecido alguns anos antes. Para ele os genes daquela família eram os culpados pelo comportamento das irmãs. Elas compartilhavam o hábito de fazer crescer a libido masculina, cultivá-la e jogá-la para bem longe no momento que lhes parecia mais oportuno. Seria algum tipo de distúrbio psicológico?

Nossa protagonista chegou a se apaixonar por ele, mas não conseguia abrir mão de sua fama de má que tanto alimentava seu ego. Por outro lado, era incapaz também de controlar o envolvimento que aumentava a cada encontro, mas achou uma saída para sua “maldade” constante. No ápice de toda paixão que existia dentro dela, da sua boca, propositalmente, saía o nome errado. Justo quando ele estava querendo acreditar que ela o amava (ou sentia alguma coisa, pelo menos). Que finalmente o cupido havia mirado nela. Mas parecia que ainda não era esse o momento.

Quando ela confirmou que estavam juntos, foi uma nova esperança para ele. Novamente desiludido ao conversar um pouco com os amigos próximos da garota, percebeu que as coisas não eram bem como ele imaginava, teria que mudar seus planos. A relação quase que descompromissada era ótima para o casal. Alguns chamavam de “sexo casual”, que os satisfazia muito bem e mantinha os programas periódicos. Ainda assim, ela não perdia sua pose de má e fazia questão de dizer para quem quisesse ouvir que ele não passava de um mero aprendiz.

Aquela situação só aguçava os interesses do homem que insistia em entender o que realmente se passava na cabeça daquela com quem estava se envolvendo. A história que viviam permitia algumas regalias que em geral não aconteciam entre os casais mais casuais. Sempre que encontrava a chance ele questionava à garota o que ela queria de verdade. Completava afirmando que ela estava à procura de um homem rico e nada mais, mas que a busca estava difícil naqueles tempos. Nenhum novo rico circulava solteiro por mais que algumas semanas. Ele avisava que o transe hipnótico no qual ela vivia estava para acabar e que logo estaria presa a uma coleira muito bem apertada.

A previsão se fez realidade e o cara que até o momento parecia ser apenas uma pessoa boa mostrou que também podia ser mal e que era ainda melhor assim. E não por simples diversão. Utilizando de estratégias bem conhecidas pela garota, e outras tantas exclusivas do universo masculino, ele inverteu o jogo. Não deixou que ela falasse uma palavra sequer, apenas fez com que ela admitisse que gostava do jeito dele de fazer as coisas. Naquele momento era ela quem não conseguia mais esquecer ou esnobar o carinha. Não adiantavam telefonemas supostamente sem importância ou qualquer outro recurso que ela tentasse. Estava sujeita às próprias maldades. Não era mais ela quem estava no controle. Qualquer tipo de “por favor querido” era ignorado por ele, reação que tinha o poder de alimentar a ânsia da garota em vê-lo e tê-lo de novo, de novo e de novo. A esnobada da vez era ela.

Finalmente ela admite estar apaixonada e abobalhada, não consegue mais fingir tão bem. Agora tem quem dê a ela tudo o que precisa, na intensidade certa. Formaram o par perfeito. Durões um com o outro, eram capazes de fazer quarto, cozinha, sala, banheiros e afins ferverem como poucos casais.


Baseado em: Falling In Love (Is Hard On The Knees), da banda Aerosmith, letra de S. Tyler/ J. Perry/ G. Ballard. Faixa 2 do disco Nine Lives, de 1998. 

Escrito em: 02 de junho de 2010. 

Revisado por: Jú Afonso (http://eumundoafora.blogspot.com/)

 

Vídeo 1:

 

Vídeo 2:

Um pouco mais pra esquerda era onde eu estava! ^^