29.8.10

Vivendo e aprendendo

Às vezes eu fico reparando nas pessoas à minha volta. Algumas delas me fazem felizes, algumas não fazem a menor diferença pra mim, outras me fazem pensar sobre um ponto em especial. Isso pode parecer discurso de quem não consegue o que quer, ou qualquer outra coisa do tipo, mas certa música do Pato Fu me faz pensar por um ângulo diferente.
Nunca fui muito boa em competições, até porque não gosto de competir. A não ser que seja por um ótimo motivo, e olhe lá. É... Talvez seja por isso que não ligo a mínima por competições esportivas, por exemplo. Enfim, por mais que esse espírito competitivo não me consuma, sei que ele também tem seu lado positivo. Como sugere a letra de “Perdendo os dentes”, da banda mineira já citada, aprende-se muito mais com as derrotas que temos ao longo da vida que com as vitórias. Se pensarmos apenas pelo lado da perda em si, é com elas que descobrimos como melhorar nossas estratégias. Mas são também elas que nos fazem dedicar mais aos nossos reais objetivos e, principalmente, nos ensinam a lidar com o insucesso.
Sinto por aqueles que desconhecem a derrota, para quem a vida parece sorrir o tempo todo. A passagem dessas pessoas pela Terra acaba sendo algo extremamente monótono. Sem grandes variações, tudo sai sempre como o planejado. Até onde eu saiba, viver pede mais por emoção e improviso que por planilhas rigorosamente seguidas. Os que se veem salvos de sofrer, não imaginam como perder faz alguém maior e dá mais força para tudo o que ainda está por vir.
Por falar em força, uma coisa curiosa que já reparei em supostos grandes vitoriosos é como eles parecem ser fortes para tudo. Por outro lado, fica claro como eles agem quando estão seguros dos olhares alheios. Eles também tem sentimentos e não, não são perfeitos em tudo. Incapacitados de admitir isso vivem escondendo suas fraquezas. Afinal são escravos da mesma vitória que parece trazer tantas glórias.
Apesar de não me importar muito com competições (e nem ser alguém que ganhe com freqüência), posso ver como um vencedor desmorona quando algo acontece fora do esperado, seja por falha sua ou alheia. A preocupação exagerada com o ganhar faz com que outras coisas da vida sejam deixadas de lado. Prefiro seguir assim. Levo as coisas como posso, sempre dando o melhor de mim, mas nunca deixo faltar amor nos meus objetivos. De que me adiantariam grandes metas sem amor por elas? Exatamente: nada. Prefiro ficar em paz comigo mesma, e feliz! Até porque, como já diria Raulzito, “É chato chegar a um objetivo num instante”, prefiro as surpresas, a expectativa e os imprevistos do caminho até chegar lá.

Baseado em: O Vencedor, da banda Los Hermanos. Composta por Marcelo Camelo. Faixa 2 do
disco Ventura, de 2003.
Escrito em: 26 de agosto de 2010.


Los Hermanos - O Vencedor from TvZERO on Vimeo.

15.8.10

Sonhos para a vida

Antes que qualquer coisa possa começar preciso te falar (ou avisar sobre) algumas coisas. Deixar claro que comigo nada é tão simples ou claro. Há muito tempo minha cabeça não funciona muito bem. Dizem por aí que eu sou louca. Até que, em certa medida, eu concordo com esse status. Ainda assim tento mudar isso. Sei que muitas vezes não parece, mas sim, eu tento. Não é exatamente fácil, muito menos como eu gostaria.

Pra começo de conversa eu não nasci numa família exemplar. Nunca vi meus pais juntos. Na verdade, conheço muito pouco deles. Um pouco mais da minha mãe, já que ainda era com ela que eu morava. Com ela e meus irmãos. Pensando bem, acho estranho quando vejo uma família completa. Pai, mãe, filhos e cachorro. Isso nunca fez parte da minha realidade. Não convivi com meu pai. Dia dos pais e Natal, de vez em quando o aniversário de um de nós, seus filhos, eram dias realmente especiais. Veríamos nosso pai, estaríamos com ele. As expectativas eram grandes, mas o encontro em si se resumia a vê-lo, abraçá-lo e ir fazer alguma coisa com os irmãos. Enfim, esse era um ponto importante que você deveria saber. Sim, gostaria de ter tido um pai comigo, mas não, essa não era a minha vida.

Tenho a impressão que se eu tivesse tido um pai teria tomado as decisões certas. Não que eu me arrependa de tudo que fiz ou que minha mãe não tenha tido influência sobre esses momentos. Mas que ela sempre estava ocupada e preocupada demais tentando dar o mínimo para os três filhos sem depender de ninguém. Sou a segunda da escadinha. Entre um irmão um ano e meio mais velho e uma irmã um ano e meio mais nova. Tire suas próprias conclusões sobre isso.

Às vezes assisto a algum capítulo de uma novela qualquer que está passando. Copacabana, Leblon, às vezes algum lugar em São Paulo... Isso quando não pego a trama no início que tem algum personagem na Holanda, Suécia, Espanha, França. Deve ser bom ter tudo aquilo. Queria que meus seus problemas fossem a dúvida se amanhã vai fazer sol e vou poder me divertir jogando frescobol na praia. Tem aquelas casas em lugares inabitados também. É só acordar, colocar o suco no copo da belíssima mesa de café da manhã (que é inteiramente desperdiçada), trocar duas palavras com quem estiver por ali (“Bom Dia”), pegar o protetor solar e ir de encontro ao mar. À noite, depois de tomar sorvete passeando pela avenida que margeia a praia, poderia ir à melhor pizzaria da região e beber um bom vinho tinto. E a melhor parte, em alguma dessas situações eu encontraria o amor da minha vida.

Depois de todas as dificuldades enfrentadas, eu e meu amado faríamos enormes fogueiras, reuniríamos nossos amigos e cantaríamos clássicos do “Música para Acampamentos” da Legião Urbana e algumas outras do Nando Reis. (Suspiro) Ia ser tão mais fácil se as coisas dessem um pouco menos errado.

Admito. Eu gostaria de ter um namorado, um amante. Não preciso de tudo que as novelas me fazem querer. Mas também queria ter um pai. Não consigo dizer que tenho um. Sou consideravelmente doida e às vezes acho que fui eu quem escolheu ser assim. Para mim, momentos de fúria são comuns não apenas certos dias do mês. Minha cabeça é algo insano que não consigo organizar. Muita gente já desistiu de mim por esses e outros motivos. Se você realmente está disposto a encarar todos esses “problemas” te digo que estou disposta a tentar. Tentar com toda a força que existe em mim. Com todo o meu coração. Tenho sede de vida e quero transformar a minha. Espero que amando você, eu consiga encontrar um ponto de onde começar. 

 

Baseado em: Lust for Life, da banda Girls. Composta por Christopher Owens. Faixa 1 do disco Album, de 2009.

 Pedido de Rebeca Penido.

 Escrito em: 13 de agosto de 2010.

 

1.8.10

Fora da área de cobertura

Os telefones que a cercavam faziam parecer que ela estava constantemente numa delegacia. Desta vez, o fixo tocou e a moça do telemarketing disparou:

_Boa TaRde, a senhora Giselle GeRms.. GeRmsno... Germsnotta está?

Ela morava sozinha e mais uma vez o telefone atrapalhava sua vida. Tentando se livrar logo da menina do outro lado ela respondeu:

_Olha, a dona Giselle foi trabalhar e só deve voltar bem tarde.

_Tem algum outro número que eu consiga falaR com ela? – insistia a vendedora de uma assinatura qualquer que não interessava.

_Não tem não. Sabe, ela é contra telefone.

_Ah sim, entendo. A editora X agradece sua atenção e deseja uma boa taRde. – tu, tu, tu...

A noite estava chegando e o telefone continuava a tocar:

_Oi mãe. Não, ainda não sei o quê eu vou fazer hoje. Pode deixar mãe, vou levar o juízo comigo. Mãe! Chega! Tchau. Tá, eu também te amo, posso ir agora? Tchau, beijo.

Pouco tempo depois foi a vez das amigas, o primeiro telefonema que ela recebeu com boa vontade naquele dia. Queriam tirá-la de casa, o que era uma boa ideia, já que assim seria mais fácil fugir dos problemas que a perseguiam há alguns meses. Elas contaram que haveria uma espécie de rave em um sítio em uma cidade próxima e que seria ótima.

Pensou duas vezes antes de aceitar o convite. Lembrou de um carinha ela gostava, mas a relação entre eles era um tanto estranha. Passava semanas ignorando a existência dela e, de repente, ressurgia. Ela não admitia, mas queria que ele ressurgisse essa noite. Recobrando a consciência e vendo que realmente precisava esquecer muita coisa, a moça concordou em ir e foi se arrumar.

Chegaram ao local e a festa realmente estava cheia e muito animada. Finalmente a noite prometia. O grupo de amigas foi direto para o bar e cada uma saiu de lá com uma bebida mais colorida que a outra. Apenas conversaram, beberam e observaram a multidão durante quase uma hora. Depois de alguns outros drinks, elas então foram dançar acompanhadas de seus copos. A cada música que tocava elas ficavam mais animadas e entravam mais no clima do lugar.

Como que para não deixá-la esquecer, o celular da garota Germsnotta voltou a tocar. Sem olhar no visor o nome que chamava, ela foi para um lugar que parecia tranquilo e “silencioso”.

_Alô? Alô?! ALÔ!!!

_Oi! Sou eu, onde você tá?

Era o carinha. Por um segundo ela ficou feliz e quis vê-lo novamente.

_Eu to num lugar que minhas amigas me trouxeram, não sei muito bem onde é. Oi?! Não tô te escutando. O sinal aqui é péssimo.

Ela tentou escutar uma resposta do outro lado da linha, mas não conseguiu. A ligação caiu. Sem muita opção, ou grande preocupação, ela voltou já dançando e sorrindo para suas amigas... e seu copo.

Alguns minutos depois, o celular chamou novamente. Está tocando uma música que ela gosta, mas a pontinha de saudade faz com que ela volte àquele lugar que parece menos barulhento.

_OI!? – ela já atende gritando para que ele pudesse escutar.

Do outro lado, uma musiquinha conhecida e a voz feminina anunciavam: “Chamada a cobrar. Para aceitá-la continue na linha após a identificação.” Tururu-rú! Ela desligou rapidamente e retornou a ligação para o garoto já sem o sorrisinho de antes.

_O quê foi?!

_Desculpa, meu crédito acabou. Onde você está? Quero te ver!

O sinal realmente era horrível, um passo para a esquerda e a ligação caiu novamente. Ela parou, pensou se valia a pena ligar pra ele. Preferiu voltar a dançar. Dançou com tanta vontade de esquecer os problemas que sua cabeça parecia ser um vácuo perfeito e seu coração, sem dar atenção ao que a atormentava, parecia vazio, uma simples bomba para a circulação sanguínea a fim de mantê-la ali, dançando.

As amigas já estavam achando as ligações insistentes estranhas e ela acabou contando o que estava acontecendo. Ao fim da história, e mais um drink, ela voltou a dançar, mas logo foi interrompida por outra ligação. Lá foi ela para o local exato onde o celular conseguia três pontos de sinal, deu end  na chamada a cobrar e retornou. Assim que ele atendeu, ela começou a falar:

_Olha, eu tô numa festa com minhas amigas, já não sinto meus pés ou minhas pernas de tanto dançar... eu to bêbada e feliz!

_Não consigo te escutar direito. Pode me mandar uma mensagem avisando onde você está ou onde posso te encontrar?

_Não, não posso! – ela bebeu mais um gole do líquido divertido que estava no copo que segurava. – Meu copo é mais importante. Não dá pra escrever uma mensagem com ele na mão. Quer saber a verdade?! Pára de me ligar, não vou mais te atender, na verdade te retornar. Liga lá pra minha casa... Fala com a minha secretária eletrônica... – a garota não se preocupava se o carinha estava ou não entendendo o que ela falava - Você não quis me procurar ou marcar nada antes, não foi? Agora eu estou ocupada, muito ocupada. Nada do que você me falar vai me tirar daqui. Tô me divertindo como há muito tempo não fazia. – virou o celular para a direção de algumas caixas de som - Tá escutando? Amo essa música. Já te disse, tô MUITO ocupada, pára de me ligar!

Ela terminou a ligação e com alguma dificuldade conseguiu desligar o aparelho definitivamente. Voltou cambaleando para onde achava que suas amigas estavam cantarolando (e dançando conforme a coreografia) a música que tocava “... I'm kinda busy. K-kinda busy K-kinda busy...”.

  

Baseado em: Telephone, da cantora Lady Gaga (com Beyoncè). Composta por Lady Gaga e Rodney Jerkins. Faixa 6 do disco The Fame Monster, de 2009.

 Escrito em: 28 de julho de 2010.

  Revisado por: Jú Afonso (http://eumundoafora.blogspot.com/)