15.8.10

Sonhos para a vida

Antes que qualquer coisa possa começar preciso te falar (ou avisar sobre) algumas coisas. Deixar claro que comigo nada é tão simples ou claro. Há muito tempo minha cabeça não funciona muito bem. Dizem por aí que eu sou louca. Até que, em certa medida, eu concordo com esse status. Ainda assim tento mudar isso. Sei que muitas vezes não parece, mas sim, eu tento. Não é exatamente fácil, muito menos como eu gostaria.

Pra começo de conversa eu não nasci numa família exemplar. Nunca vi meus pais juntos. Na verdade, conheço muito pouco deles. Um pouco mais da minha mãe, já que ainda era com ela que eu morava. Com ela e meus irmãos. Pensando bem, acho estranho quando vejo uma família completa. Pai, mãe, filhos e cachorro. Isso nunca fez parte da minha realidade. Não convivi com meu pai. Dia dos pais e Natal, de vez em quando o aniversário de um de nós, seus filhos, eram dias realmente especiais. Veríamos nosso pai, estaríamos com ele. As expectativas eram grandes, mas o encontro em si se resumia a vê-lo, abraçá-lo e ir fazer alguma coisa com os irmãos. Enfim, esse era um ponto importante que você deveria saber. Sim, gostaria de ter tido um pai comigo, mas não, essa não era a minha vida.

Tenho a impressão que se eu tivesse tido um pai teria tomado as decisões certas. Não que eu me arrependa de tudo que fiz ou que minha mãe não tenha tido influência sobre esses momentos. Mas que ela sempre estava ocupada e preocupada demais tentando dar o mínimo para os três filhos sem depender de ninguém. Sou a segunda da escadinha. Entre um irmão um ano e meio mais velho e uma irmã um ano e meio mais nova. Tire suas próprias conclusões sobre isso.

Às vezes assisto a algum capítulo de uma novela qualquer que está passando. Copacabana, Leblon, às vezes algum lugar em São Paulo... Isso quando não pego a trama no início que tem algum personagem na Holanda, Suécia, Espanha, França. Deve ser bom ter tudo aquilo. Queria que meus seus problemas fossem a dúvida se amanhã vai fazer sol e vou poder me divertir jogando frescobol na praia. Tem aquelas casas em lugares inabitados também. É só acordar, colocar o suco no copo da belíssima mesa de café da manhã (que é inteiramente desperdiçada), trocar duas palavras com quem estiver por ali (“Bom Dia”), pegar o protetor solar e ir de encontro ao mar. À noite, depois de tomar sorvete passeando pela avenida que margeia a praia, poderia ir à melhor pizzaria da região e beber um bom vinho tinto. E a melhor parte, em alguma dessas situações eu encontraria o amor da minha vida.

Depois de todas as dificuldades enfrentadas, eu e meu amado faríamos enormes fogueiras, reuniríamos nossos amigos e cantaríamos clássicos do “Música para Acampamentos” da Legião Urbana e algumas outras do Nando Reis. (Suspiro) Ia ser tão mais fácil se as coisas dessem um pouco menos errado.

Admito. Eu gostaria de ter um namorado, um amante. Não preciso de tudo que as novelas me fazem querer. Mas também queria ter um pai. Não consigo dizer que tenho um. Sou consideravelmente doida e às vezes acho que fui eu quem escolheu ser assim. Para mim, momentos de fúria são comuns não apenas certos dias do mês. Minha cabeça é algo insano que não consigo organizar. Muita gente já desistiu de mim por esses e outros motivos. Se você realmente está disposto a encarar todos esses “problemas” te digo que estou disposta a tentar. Tentar com toda a força que existe em mim. Com todo o meu coração. Tenho sede de vida e quero transformar a minha. Espero que amando você, eu consiga encontrar um ponto de onde começar. 

 

Baseado em: Lust for Life, da banda Girls. Composta por Christopher Owens. Faixa 1 do disco Album, de 2009.

 Pedido de Rebeca Penido.

 Escrito em: 13 de agosto de 2010.

 

3 comentários:

  1. ei sarinhah! adorei o texto, morta de saudads! achei que te vi na rua hj, mas não era vc... =\
    bjo

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  2. Olá, Ruiva!
    Adorei o texto, assim como adoro a música. Seus contos estão cada dia melhores. Obrigada por atender a um pedido, haha. Saudades e continue escrevendo.

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  3. Que lindo esse texto sarinha! Adorei!!
    E não conhecia essa música. Muito boa!

    Na parte da novela você traduziu meus pensamentos: que vida triste a desse povo não? E a mesa do café da manhã? Pelamordedeus: me chama pra comer tbm, que desperdicio de comida boa!!

    Orgulho de vc nesse momento! =]
    Beijos!!

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