1.9.11

Velha história

A noite de sexta-feira estava apenas começando quando você me ligou. Há quanto tempo não saíamos juntas! Estava mesmo com saudade das nossas risadas e fofocas depois de um longo dia de trabalho. Você já estava no boteco de sempre próximo ao centro da cidade e apenas me intimou a te encontrar lá. Ou seja, senti que era o tipo de pedido irrecusável.

Assim que cheguei te encontrei sozinha já com uma garrafa de cerveja aberta. Você não parecia estar bem e meu sexto-sentido já dizia o que tinha acontecido, era a mesma velha história de novo. Sentei na cadeira à sua frente e logo senti a quantidade de urubus olhando para nós. Nenhum deles te interessava. Apenas seu passado te interessava. O mesmo cara, o mesmo lugar, a mesma situação estranha, a mesma sensação de abandono, o mesmo descaso.

Não havia novidade nem na sua fala nem na minha. “Você precisa se livrar disso. Parar de insistir numa coisa que nunca deu certo nem tem nada pra dar certo”, eu insisti em te dizer para largar essa história de uma vez por todas, mas isso não surtiu muito efeito. Você me disse que o revival só aconteceu porque você estava carente, perdida por aí. Não, não foi isso. Te conheço e pelo que estou sabendo opções não te faltam. E essa não foi a primeira vez. “Você não quer admitir, mas já deixou escapar muitas histórias mais interessantes que esse seu passado que não te deixa. Além de tudo, você sabe muito bem que ele não te faz bem. Nunca te fez”

Algumas garrafas de cerveja a mais e eu continuava a te dar motivos pra dar adeus a tudo o que envolvesse esse cara. “Nem você acredita mais nisso. Se convenceu de que não vale a pena, que só alimenta uma mágoa que não de traz nada de positivo. Eu me importo com você. Quero te ver bem de novo!” Você ensaiava um sorriso, mas era claro que não eram essas as palavras que você queria ouvir, mas as que precisava. “Desculpa se estou pegando pesado, é que estou realmente preocupada com você” Momento de silêncio. A essa altura a cerveja já havia sido esquecida. “Não se arrependa de nada que tenha feito. Terminar o que já não estava dando certo foi a melhor coisa que havia pra ser feita, por mais que a chance da recaída existisse. Mas agora já deu. Pensa pra frente, num possível futuro. Pára de ficar admirando uma história que não funcionou”

Sabia que você concordava comigo, por mais que não me dissesse uma palavra sequer. “Agora é hora de parar de andar por este caminho. Escolhe algum outro. Qualquer um que seja diferente deste” Dei uma olhada ao redor e o bando de urubus continuava a nos rondar. “Ei!”, eu chamei sua atenção de volta pra mim, “já reparou nas mesas ao nosso redor? Parte pro ataque. Chega de ficar se remoendo. Isso não faz bem pra ninguém e não tem nada a ver com você! E como você mesma diria, nada como um novo item no cardápio para excluir um que não agrada! Quem precisa de uma recauchutada no cardápio agora é você, amiga”.

Não, naquela noite não apareceu nenhuma nova opção no seu menu, mas espero que pelo menos um dos pratos principais tenha saído definitivamente. Até porque, caso isso não aconteça, você só vai se afundar cada vez mais. Esquece esta história!




Baseado em: Kiss your past goodbye, da banda Aerosmith. Composta por Steven Tyler e Mark Hudson. Faixa 10 do disco Nine Lives de 1997.



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