Ele não faz muita ideia de onde está, mas tem certeza que não é nada perto de onde deveria estar. O punho de aço continua esmurrando sua cabeça, sinal que a vodka da noite anterior deixava suas últimas marcas. Agora ele está sentado no banco de um piano mal tratado, tocando algumas teclas que produzem uma melodia que beira a depressão. Ele tenta se lembrar do que tinha acontecido nas últimas 12 horas.
Quando se dá conta, uma boca francesa deixa uma marca vermelha em seu rosto e a voz feminina ecoa pelo cômodo: “Au revoir, beau”. Ele finalmente consegue levantar a cabeça para ver a loura saindo do salão daquele hotel digno de beira de estrada. A visão daqueles cabelos lhe causa arrepios de horror. As lembranças começam a voltar e junto com elas a sensação de ser alguém desprezível.
O ritmo de uma bandinha de rua começa a chegar perto. De alguma forma as batidas se regulam com o pulsar do seu coração e finalmente começa a pensar onde tinha se enfiado. Ele não sabe se é a coisa certa a se fazer, mas resolve se levantar e começar a caminhada que o levaria para casa. Era lá que ele a encontraria. Quem ele realmente ama e de quem precisa. Espera que no caminho consiga descobrir como tudo isso começou, onde terminou e como ou se contaria para ela. Valia a pena?
Logo que sai daquele lugar – e consegue sentir outro cheiro que não o de mofo e poeira – começam a aparecer algumas cenas soltas em sua mente. Estava com um amigo que precisava de alguém para conversar. Pediram whisky, só para acompanhar o papo. Eles beberam várias doses. Havia aquela francesa, sozinha no balcão. Por algum motivo que ainda não tinha recordado, foi ele que procurou a mulher. Talvez o amigo tivesse ido embora. Ele pediu mais uma dose de whisky para o sujeito com peruca torta atrás do balcão. Na lembrança seguinte ele já estava deitado na cama de colchão gasto com a francesa e a maldita garrafa de vodka barata.
Olhando para a estrada na qual segue ele avista um telefone público em um posto. “Talvez fosse bom ligar para ela... Talvez não”, e continua andando sob o sol quente pelo caminho que o levará até sua casa. “Espero que ela tenha pensado em mim quando adormeceu”. Pensando nisso se lembra do celular e procura por algum sinal da preocupação dela. O aparelho está sem bateria. A ideia de tempo o confunde. Não sabe que horas são ou quanto tempo se passou desde que chegara àquele hotel.
Ele fecha os olhos e suspira. Queria estar ao lado de quem ama. Passarinhos cantam perto dali. É o mesmo canto que ouvia enquanto tomava café da manhã com ela. Ainda não sabe o que fazer ou o que contar sobre a noite anterior. Ela sabe que é a mulher da vida dele, que isso já tinha sido provado inúmeras vezes, que é ela que ele morreria defendendo. Será que ela lembraria disso? Ele olha para o anel na mão esquerda e pensa em flores. Rosas mais especificamente. Depois das imagens que vieram à sua mente, tudo o que ele quer é deitá-la em uma cama feita das mais belas e perfumadas rosas, enquanto ele merecesse estar cravado em uma coberta de pregos. Tudo que queria agora é que os últimos acontecimentos fossem cenas de um filme. Que ele pudesse apenas levantar-se da poltrona, deixar o balde de pipoca na mesa de centro e encontrar sua mulher logo a frente. Porém, não é assim que as coisas funcionam. Se não podia comprar as flores mais especiais do mundo, ele compra as mais bonitas de uma floricultura que cruza seu caminho para casa, onde espera encontrar aquela que ama.
Baseado em: Bed of Roses, da banda Bon Jovi. Composta por Jon Bon Jovi. Faixa 5 do disco Keep te Faith, de 1992.
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