20.3.11

Recordações e explicações

Ele não faz muita ideia de onde está, mas tem certeza que não é nada perto de onde deveria estar. O punho de aço continua esmurrando sua cabeça, sinal que a vodka da noite anterior deixava suas últimas marcas. Agora ele está sentado no banco de um piano mal tratado, tocando algumas teclas que produzem uma melodia que beira a depressão. Ele tenta se lembrar do que tinha acontecido nas últimas 12 horas.

Quando se dá conta, uma boca francesa deixa uma marca vermelha em seu rosto e a voz feminina ecoa pelo cômodo: “Au revoir, beau”. Ele finalmente consegue levantar a cabeça para ver a loura saindo do salão daquele hotel digno de beira de estrada. A visão daqueles cabelos lhe causa arrepios de horror. As lembranças começam a voltar e junto com elas a sensação de ser alguém desprezível.

O ritmo de uma bandinha de rua começa a chegar perto. De alguma forma as batidas se regulam com o pulsar do seu coração e finalmente começa a pensar onde tinha se enfiado. Ele não sabe se é a coisa certa a se fazer, mas resolve se levantar e começar a caminhada que o levaria para casa. Era lá que ele a encontraria. Quem ele realmente ama e de quem precisa. Espera que no caminho consiga descobrir como tudo isso começou, onde terminou e como ou se contaria para ela. Valia a pena?

Logo que sai daquele lugar – e consegue sentir outro cheiro que não o de mofo e poeira – começam a aparecer algumas cenas soltas em sua mente. Estava com um amigo que precisava de alguém para conversar. Pediram whisky, só para acompanhar o papo. Eles beberam várias doses. Havia aquela francesa, sozinha no balcão. Por algum motivo que ainda não tinha recordado, foi ele que procurou a mulher. Talvez o amigo tivesse ido embora. Ele pediu mais uma dose de whisky para o sujeito com peruca torta atrás do balcão. Na lembrança seguinte ele já estava deitado na cama de colchão gasto com a francesa e a maldita garrafa de vodka barata.

Olhando para a estrada na qual segue ele avista um telefone público em um posto. “Talvez fosse bom ligar para ela... Talvez não”, e continua andando sob o sol quente pelo caminho que o levará até sua casa. “Espero que ela tenha pensado em mim quando adormeceu”. Pensando nisso se lembra do celular e procura por algum sinal da preocupação dela. O aparelho está sem bateria. A ideia de tempo o confunde. Não sabe que horas são ou quanto tempo se passou desde que chegara àquele hotel.

Ele fecha os olhos e suspira. Queria estar ao lado de quem ama. Passarinhos cantam perto dali. É o mesmo canto que ouvia enquanto tomava café da manhã com ela. Ainda não sabe o que fazer ou o que contar sobre a noite anterior. Ela sabe que é a mulher da vida dele, que isso já tinha sido provado inúmeras vezes, que é ela que ele morreria defendendo. Será que ela lembraria disso? Ele olha para o anel na mão esquerda e pensa em flores. Rosas mais especificamente. Depois das imagens que vieram à sua mente, tudo o que ele quer é deitá-la em uma cama feita das mais belas e perfumadas rosas, enquanto ele merecesse estar cravado em uma coberta de pregos. Tudo que queria agora é que os últimos acontecimentos fossem cenas de um filme. Que ele pudesse apenas levantar-se da poltrona, deixar o balde de pipoca na mesa de centro e encontrar sua mulher logo a frente. Porém, não é assim que as coisas funcionam. Se não podia comprar as flores mais especiais do mundo, ele compra as mais bonitas de uma floricultura que cruza seu caminho para casa, onde espera encontrar aquela que ama.

Baseado em: Bed of Roses, da banda Bon Jovi. Composta por Jon Bon Jovi. Faixa 5 do disco Keep te Faith, de 1992.

2.3.11

Saudades

Deitada na minha cama, olhando para o teto, escutando música e ligeiramente entediada. Isso me faz pensar em como você ocupa meu tempo. Em como você faz isso bem. Me faz lembrar como apenas estar ao seu lado, vendo imagens frenéticas na televisão ou os nossos pés mexendo juntos, me deixa feliz como nunca imaginei que pudesse ficar. Quem diria que um dia eu ficaria assim! Quem diria que um dia alguém me deixaria assim!

Quando a gente acaba dormindo por uma razão ou por outra e eu te vejo acordando ao meu lado, isso também me deixa incrivelmente feliz. Olhar para você e ver que o seu sorriso corresponde ao meu me deixa triplamente feliz. Uma felicidade que há até pouco tempo eu considerava utópica. Admito que me tornei muito daquilo que nunca compreendi ou sequer acreditei. Como diria o poeta: Keep the faith!

Certa vez me iludi ao ponto de achar que amava alguém. Não. Não era bem isso. Agora eu posso verdadeiramente e conscientemente falar “Eu te amo”, sabendo o que isso significa. Sei também qual é a diferença entre amar meus amigos e amar você. Paradoxalmente se alguém um dia me pedir para explicar o que é isso, sinto muito, não sou capaz de descrever em palavras o que acontece comigo. O que você despertou em mim. O que você me mostrou ser real.

Agora que você está longe eu fico sem saber o que fazer certas horas do dia. Me perco sem ter você ao meu lado. Sei que você não vai ficar longe por nem 10 dias, mas... caramba! Como eu sinto a sua falta! Será que dizer isso seria exagero da minha parte? Antiquado? Ou apenas sincero?

Procurei alguma coisa que pudesse funcionar como intermediária entre o aperto que não larga meu coração e você. Acabei encontrando algo muito além do que procurava. Algo que juntou tudo o que venho descobrindo nos últimos meses e me mostrou que a felicidade que eu acreditava ser impossível existe. E que agora eu também sei o que é. Assim que você chegar eu mostro o meu novo achado.

Ainda faltam alguns dias. Não consigo deixar de te procurar em fotos, de tentar achar seu cheiro nos meus braços, o seu abraço em um simples travesseiro. Meu cérebro sabe que daqui a pouco você está de volta, mas ele esqueceu de dividir essa informação com outras partes de mim. Sei que tudo isso pode parecer demais, que minha saudade por um lado até pode ser positiva. Na verdade, o que eu preciso mesmo, é te dizer como me importo com você, como você é importante para mim e como eu sinto a sua falta.

Baseado em: I miss you, da banda Incubus. Composta por Brandon Boyd, Michael Einziger, Alex Katunish, Christopher Kilmore e Jose Pasillas. Faixa 11 do disco Make Yourself, de 1999.




Notas da autora:

1) Esse texto foi escrito no dia 20 de fevereiro;

2) Desculpem pelo abandono, espero conseguir voltar ao ritmo agora que as férias estão quase no fim e minha preguiça eterna deve ir com elas.