1.1.11

Entre mãe e filho

Domingo de manhã.

_ Mãe, você não precisa ficar me falando essa ladainha toda de novo. Eu já sei disso tudo. Eu não vou me esquecer das minhas obrigações, eu não vou fugir delas. Só não vou mais morar com você.

_ Me desculpa se não fui a mãe que você sonhou. Se não sou tão incrível como as mães dos seus amigos. – O silêncio tomou conta do lugar durante alguns segundos e ela retomou a conversa – Se você tiver se esquecido de levar alguma coisa pode me ligar que eu levo pra você. Ou você pode vir buscar quando quiser. – Mais silêncio – Se um dia você precisar, ou quiser dormir aqui também pode vir.

_ Eu também não sou o filho perfeito, mas você é minha mãe. Não quero que você passe a noite em claro por minha causa. Espero que isso não aconteça. – Ele pensou duas vezes e preferiu dizer o que estava na sua cabeça – Sempre fui diferente dos meus irmãos. Nunca fui tão certinho quanto eles.

_ Você não quer vir lanchar comigo no sábado à tardinha? Eu arrumo uma mesa com bolo de cenoura com cobertura de chocolate, guaraná e aquela torta que você gosta. Coloco muito tomate! Seus primos estão aqui, posso falar com eles também!

Mais tarde ele se encontrou com uma amiga em um bar:

_ Sei que vou sentir falta da minha mãe. Pensar nela quando eu acordar e não der “Bom Dia” para ela. Mas eu não podia continuar convivendo todos os dias. E também já estava na hora de eu sair de casa!

A garota pegou um guardanapo da mesa onde estavam, tirou uma caneta da bolsa e rabiscou algumas palavras. Em seguida deu o papel para o amigo. Ele leu e releu. Eram poucas palavras, como se fossem parte de um poema, que resumiam a então relação dele com a mãe. Muito mais simples e sincero que qualquer coisa que filósofos ou poetas pudessem escrever. Ela conhecia a família há mais de uma década. Sabia bem o que se passava ali.

O sábado chegou. E ele estava indo pra casa da mãe quando pensou em levar alguma coisa pra ela. Passou na floricultura e comprou algumas mudas de flores que chamaram a atenção dele. Muito coloridas e com uma combinação diferente entre elas. Ficariam bem na jardineira da sala da frente. A vendedora contou que elas se chamavam Amor Perfeito. Seria um bom presente. Sua mãe gostava de mexer com a terra. Ele sentia um pouco de culpa pelas palavras que disse a ela há quase uma semana.

Quando chegou na rua que morava até a semana anterior ele viu a luz da sala de visitas acesa. Estacionou o carro, pegou a caixa com as flores para serem plantadas e procurou no bolso as chaves de casa. Ou daquela casa. Pensou e preferiu tocar a campainha.

_Você não precisa tocar a campainha meu filho. Essa casa é sua. Você pode voltar quando você quiser.

Ele estendeu a caixa com as flores e disse:

_ A moça da floricultura disse que se chamam...

_ Amor Perfeito – completou a mãe.

_Achei que ficariam bonitas naquela jardineira, na frente da casa.

_ Vão ficar lindas.


Baseado em: Amores Imperfeitos, da banda Skank. Composta por Samuel Rosa/ Chico Amaral. Faixa 4 do disco Cosmotron, de 2003.


Nota da autora: Desculpem o sumiço. Me dei o mês de dezembro de férias do blog!

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