12.9.10

Hiperatividade

Pra quem gosta de levar uma vida agitada como ela, os últimos meses foram como se ela estivesse em um SPA. Nada acontecia. Nada de bom, nada de ruim... A monotonia tomava conta da vida familiar, da social, da profissional, da acadêmica, da vida amorosa então nem se fala. Ela queria sair quase toda noite, mas odiava não ter companhia pra isso. A época do ano, final de semestre, fazia todos os seus amigos estarem ocupados demais tentando passar naquela disciplina chata. Quando chegava a tarde de sábado a garota não se continha e ia até a sorveteria não tão próxima da sua casa. Pelo menos ia poder passear pelas ruas (vazias)... Impressionante como era difícil ver os vizinhos caminhando pelas praças e entre as árvores daquela região tão tradicional da cidade.

Por algum motivo estranho, enquanto caminhava pelas ruas se deliciando com os três sabores de sorvete e as obrigatórias castanhas, sentia que aquele lugar por onde ela passava testemunhava a vida de quem morava por ali, ou simplesmente freqüentava a região por alguma razão. Pensava como aquelas calçadas e ruas “sabiam” da vida daqueles bairros, que de tão pequenos não era possível perceber a transição entre um e outro. Voltando à realidade, balançava a cabeça e lembrava que asfalto e cimento ainda não tinham desenvolvido memória ou um meio de contar sobre tudo o que testemunham.

As semanas passaram e o ano já estava quase no final. O semestre na faculdade estava terminando, todos os últimos trabalhos encaminhados e só faltava imprimi-los no dia anterior da data marcada para a entrega. Ela continuava tentando achar companhia para algum show, inferninho, teatro ou boteco que fosse. Os amigos diziam que as provas finais estavam chegando, que ainda não tinham pontos suficientes e o pior de tudo, os professores não estavam muito animados para ajudar um aluno que seja. A solidão fazia uma visita para a garota que passava horas deitada na cama olhando para o teto e escutando música.

Numa dessas horas ela se lembrava de seus amigos e amantes... De como é bom estar com eles. Observadora como é, lembrava exatamente dos gestos que marcava cada um deles. Dos mais complexos e escandalosos, aos mais simples e leves. Estar com eles era como sair da realidade que a perseguia. Sim, ela adorava a vida que levava: seu curso, trabalho, família. Mas escapar disso de tempos em tempos também era muito bom. Rotina nunca foi uma palavra agradável para ela. Sentia-se como se pudesse voar ao passar as noites com essas pessoas. Nesses momentos tinha certeza que não haveria grandes preocupações, apenas alegria.

Finalmente terminou o semestre, mas a garota não se deu conta dos compromissos que tinha para as férias. Boa parte de seus amigos estava formando. Os bailes iriam acontecer quase que a cada duas semanas. Finalmente ela teria uma noite inteira do jeito que ela mais gosta. Aliás, uma não, algumas! Ela gostava de dizer que esses eventos com seus amigos e pretendentes eram “um dia de gente”. Um dia que ela poderia viver da forma como mais gosta. (Quase) Sempre comendo e bebendo do melhor, dançando ao som das músicas mais animadas (mesmo que não sejam as suas preferidas), na companhia de algumas das pessoas mais importantes para ela. Ao primeiro bocejo alheio ela fazia de tudo pra manter o sonolento acordado. “Hoje é proibido dormir!” ela avisava a todos com uma animação que tanto era capaz de contagiar quanto de cansar seu alvo.

De qualquer maneira, uma coisa era certa. Sempre que ela estava presente os amigos sabiam que aquela noite só terminaria com o nascer do sol, provavelmente na mesma padaria de sempre, com todos comendo pão passado na chapa com café. Essa era a única rotina permitida pela amiga. Mais que permitida, rigidamente cumprida.

Baseado em: Eu contra a noite, da banda Kid Abelha. Composta por George Israel e Paula Toller. Faixa 1 do disco Surf, de 2001.

Escrito em: 11 de setembro de 2010.

Um comentário:

  1. Não tem nada melhor que virar a noite em um lugar animado rodeado de gente que nós gostamos msm... =]

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