Devia ser uma terça ou quarta-feira quando aceitei uma proposta de muito tempo. Estava vendo uma novela das oito – que é transmitida às 21h – quando o telefone tocou: “Vai ter clássico domingo que vem e eu vou comprar os ingressos amanhã. Você vai com a gente?” Pensei por cinco segundos e respondi que sim. Apesar de ser o primeiro jogo entre Atlético e Cruzeiro do ano, não era bem assim que eu imaginava minha estréia no Mineirão. Não sou fã de futebol – não mesmo – e tinha certo receio de ir a um clássico, ainda que fosse de cadeira especial (lê-se torcedores dos dois times juntos que se comportam de forma mais civilizada).
Quando comecei a divulgar o acontecimento do mês, poucos não ficaram surpresos. Afinal, não sou ligada nem a futebol, nem a esporte nenhum. Enfim, sim, eu ia. Finalmente mataria minha curiosidade de assistir a um jogo do estádio – nada mais chato que fazê-lo via televisão – e o meu principal objetivo, ver as torcidas em ação.
Depois de muita espera, o tão aguardado dia começa. Por minha causa, chegamos (eu, uma amiga e dois amigos) depois do início do espetáculo. Não do jogo, mas da apresentação dos times e da troca de xingamentos entre as torcidas. Confesso que queria ter visto isso, mas terei outras oportunidades, espero.
O jogo começou e as torcidas logo desviaram minha atenção daquele bando de homens correndo atrás de uma bola que, a propósito, tem uma capacidade incrível de fazê-los passar raiva. Com o chute de um ela vai em direção à trave, em outra situação passa perto do gol, sem dar chance de ser cabeceada e, finalmente, entra na rede. Cruzeiro 1X0 Atlético. Toda aquela gente se agita. Do lado oposto de onde estava, a Máfia Azul vibra e prende o meu olhar.
Tentei me atentar um pouco mais ao que estava acontecendo no gramado. Impossível, as torcidas são fantásticas! Fiquei imaginando como a vida daquelas pessoas era ligada ao futebol. Bandeiras penduradas pela casa, faixas de campeão, pôsteres do time, entre milhares de outros detalhes. Só não trabalham com a camisa do time porque não pega bem. Regra que não se aplica à maioria. Às vezes até fico triste por não ter um time de coração. Primeiramente porque adoro camisas de futebol, em geral são muito legais e bonitas. Outro motivo: adoro ver o orgulho dos torcedores vestindo o que chamam de “manto”, o escudo ao lado do coração (coisa que não fariam nem pela própria mãe).
Olha! Gol de novo! Fico triste pelos meus amigos e alegre pela amiga. Cruzeiro 2X0 Atlético. Os atleticanos não se deixam abater. A raiva e a tristeza passam depois de algumas dezenas de palavrões e socos no ar, logo voltam a cantar e berrar pelo time. Peço desculpas aos cruzeirenses pela minha declaração, e aos atleticanos pela ofensa, mas os torcedores do Galo mereciam um time melhor. A paixão dessa massa me contagia.
Meu amigo até tenta me contar quem é quem em cada equipe e tudo mais. Zagueiros, centroavantes, laterais, defesa e afins. “Tá vendo aquele cara ali? É com ele que a gente tem que se preocupar. É o melhor jogador deles”. É... Não me interesso por futebol, contrariando o sangue brasileiro.
Comecei a reparar nos jogadores então. Ao que parece, a maior parte é de origem pobre e talento de sobra. Conseguiram tornar o sonho de infância em profissão reconhecida. Se antes eles jogavam bola com os pés descalços num campinho de terra batida, agora vestem as melhores chuteiras e são considerados quase heróis nacionais ao pisarem no tapete verde (melhor não render esse assunto). Para os presentes no Mineirão naquela hora, além de bilhões de outros fanáticos pelo mundo, futebol é tão importante quanto a própria vida. Não importa se o sol se extinguir ou explodir amanhã, para isso os estádios são equipados com iluminação artificial e os clubes tem uniformes para dias frios. Tanto faz o que acontece no resto do mundo, tem um jogo de futebol agora.
Novamente me divertia com as torcidas quando ouço um coro diferente e pessoas perto de mim gritando: “Pênalti!” Era a chance do Galo começar uma virada. Confirmando as probabilidades: Cruzeiro 2X1 Atlético. “O Galo é o time da virada/O Galo é o time do amor” Nunca me esqueci dessa música apesar de ter escutado tantas naquela tarde. Volto a dizer que essa torcida me contagia. Depois disso consegui me concentrar no resto do jogo e cheguei a gritar pelo time. “O Galo tem 15 minutos pra fazer outro gol. Vamo lá Galo!”, meus amigos se desesperavam junto com os atleticanos ao redor. Ao lado, minha amiga não parava de sorrir.
Não foi dessa vez. Daquele clássico o Cruzeiro saiu vitorioso. Enquanto a torcida do Atlético ia deixando o local, a do Cruzeiro comemorava.
Eu? Estava feliz da vida. Nunca imaginei que fosse gostar tanto de ir a um jogo. Os mais de 90 minutos passaram numa velocidade incrível. Confesso que uma partida de futebol é emocionante. Por fim, admito também que espero que essa tenha sido apenas a minha primeira visita ao Mineirão.
Baseado em: É uma Partida de Futebol, da banda Skank, letra de Samuel Rosa e Nando Reis. Faixa 1 do disco O Samba Poconé, de 1996.
Escrito em: 05 de maio de 2010.
Revisado por: Jú Afonso (http://eumundoafora.blogspot.com/)
Skank - Uma Partida de Futebol from TvZERO on Vimeo.
Que lindo, nega! É o primeiro texto verídico aqui? Eu acho bonita também essa paixão pelo time...mas até hoje não me contagiou... Depois do texto, JURO que me deu um poquinho mais de curiosidade. hahaha Sempre passo aqui nega! ADORO! Mesmo não comentando quase nunca...
ResponderExcluirBeijos!!
Por essas e outras que eu odeio futebol.
ResponderExcluirEEEEEEEEEEEU TAVA AÍ! EU QUE TE LEVEI! AH, EU TOH NA HISTÓRIA! EBA!
ResponderExcluir"Que coisa linda é uma partida de futebol!!"
ResponderExcluirAinda mais com meu time ganhando, o que sempre acontece nesse caso aí! heuehuh
Mto legal Sarah