24.5.10

Para onde você vai

Como milhares de jovens de vinte e poucos anos ao redor do mundo, a polonesa, então estudante universitária, resolveu conhecer melhor alguns cantos longe de casa. Devido às suas condições de estudante, o plano de desvendar lugares distantes e exóticos se resumiu a um “passeio” pela Europa. Começaria por Portugal, passaria pela Espanha, subiria para a Inglaterra, iria para a França pelo Eurotúnel e terminaria na Itália. Tudo isso apenas com uma imensa mochila nas costas e sem conhecer muita gente pelo caminho.

Ela estava se despedindo do território francês e indo de encontro ao seu último destino quando o conheceu. Era um engenheiro italiano que voltava de uma viagem a trabalho. Sentados lado a lado durante toda a viagem, o homem se tornou um amigo de grande ajuda na viagem à Itália para a polonesa e, depois de alguns dias, eles admitiram estarem apaixonados. Aproveitaram cada segundo da garota na Itália. Conheceram restaurantes, parques, pontos turísticos obrigatórios, cidades diferentes, praias do Mediterrâneo, lugares românticos. Esses, não faltavam em Veneza, onde ele morava.

Enfim o dinheiro acabou, as aulas iriam recomeçar e ela não teve outra escolha que não voltar para casa, em Varsóvia. Até o último segundo estiveram juntos, fazendo promessas de se reencontrarem o quanto antes e de se falarem todos os dias.

Ele tem vontade de largar tudo na Itália e ir ao encontro de sua amada. A cada dia que passa essa vontade cresce, mas lembra que não pode, que ainda não dá. Precisa juntar mais dinheiro. Com a ajuda de seus amigos e família suporta mais algum tempo. Por outro lado, todos os dias, assim que sai do trabalho, vai à praia sentir a maresia. É como senti-la sem poder tê-la. O vai-e-vem das ondas o acalma. Dentro em pouco estará onde seu coração está. Não importa onde, apenas que estejam juntos. Onde será que ela está agora?

Já de volta ao último semestre da faculdade a estudante luta para se concentrar. Está triste e não pode esconder. Quando chega a noite ela sai à varanda do seu quarto para olhar as estrelas. Não são tão belas quanto as italianas. Acha graça quando percebe o contorno de um coelho na lua cheia. Busca respostas no céu sobre tudo o que ela está passando, mas não é atendida. Pensa em seu amado, mal pode se conter de tanta ansiedade em reencontrá-lo. Em pertencer ao mesmo lugar que ele. Por onde ele deve estar andando indo?

Em uma das centenas de conversas que tiveram desde a separação ele disse: “Se durante esse tempo que estivermos separados você ficar cansada, tenha certeza que volto a te encontrar para que se recupere e, apenas quando estiver tudo ok novamente, retomamos nossa atual rotina.”

Ele não é nenhum herói e AINDA não pode mudar a situação, nem ao menos responder às questões da polonesa que tanto ama. Porém, a única certeza que tem é que pertence a ela, que quer estar ao lado dela aonde quer que ela vá. Para eles não importa onde estarão: no país dele, no país dela ou qualquer outro território do planeta. Apenas desejam estar juntos.

Alguns meses se passam. Algumas visitas acontecem. Ela se forma na presença dele. Ele é promovido, para a felicidade do casal. Junto com o novo cargo, a possibilidade de ser transferido para uma filial em Paris. Com a ajuda de amigos parisienses ela consegue um bom emprego na capital francesa. Eles se casam. Agora, finalmente, podem seguir seu caminho juntos.

 

Baseado em: Where are you going, da banda Dave Metthews Band, letra de Dave Matthews. Faixa 3 do disco Busted Stuff, de 2002.

Escrito em: 20 de maio de 2010. 

Revisado por: Jú Afonso (http://eumundoafora.blogspot.com/)

 

11.5.10

Do meu primeiro clássico

Devia ser uma terça ou quarta-feira quando aceitei uma proposta de muito tempo. Estava vendo uma novela das oito – que é transmitida às 21h – quando o telefone tocou: “Vai ter clássico domingo que vem e eu vou comprar os ingressos amanhã. Você vai com a gente?” Pensei por cinco segundos e respondi que sim. Apesar de ser o primeiro jogo entre Atlético e Cruzeiro do ano, não era bem assim que eu imaginava minha estréia no Mineirão. Não sou fã de futebol – não mesmo – e tinha certo receio de ir a um clássico, ainda que fosse de cadeira especial (lê-se torcedores dos dois times juntos que se comportam de forma mais civilizada).

Quando comecei a divulgar o acontecimento do mês, poucos não ficaram surpresos. Afinal, não sou ligada nem a futebol, nem a esporte nenhum. Enfim, sim, eu ia. Finalmente mataria minha curiosidade de assistir a um jogo do estádio – nada mais chato que fazê-lo via televisão – e o meu principal objetivo, ver as torcidas em ação.

Depois de muita espera, o tão aguardado dia começa. Por minha causa, chegamos (eu, uma amiga e dois amigos) depois do início do espetáculo. Não do jogo, mas da apresentação dos times e da troca de xingamentos entre as torcidas. Confesso que queria ter visto isso, mas terei outras oportunidades, espero.

O jogo começou e as torcidas logo desviaram minha atenção daquele bando de homens correndo atrás de uma bola que, a propósito, tem uma capacidade incrível de fazê-los passar raiva. Com o chute de um ela vai em direção à trave, em outra situação passa perto do gol, sem dar chance de ser cabeceada e, finalmente, entra na rede. Cruzeiro 1X0 Atlético. Toda aquela gente se agita. Do lado oposto de onde estava, a Máfia Azul vibra e prende o meu olhar.

Tentei me atentar um pouco mais ao que estava acontecendo no gramado. Impossível, as torcidas são fantásticas! Fiquei imaginando como a vida daquelas pessoas era ligada ao futebol. Bandeiras penduradas pela casa, faixas de campeão, pôsteres do time, entre milhares de outros detalhes. Só não trabalham com a camisa do time porque não pega bem. Regra que não se aplica à maioria. Às vezes até fico triste por não ter um time de coração. Primeiramente porque adoro camisas de futebol, em geral são muito legais e bonitas. Outro motivo: adoro ver o orgulho dos torcedores vestindo o que chamam de “manto”, o escudo ao lado do coração (coisa que não fariam nem pela própria mãe).

Olha! Gol de novo! Fico triste pelos meus amigos e alegre pela amiga. Cruzeiro 2X0 Atlético. Os atleticanos não se deixam abater. A raiva e a tristeza passam depois de algumas dezenas de palavrões e socos no ar, logo voltam a cantar e berrar pelo time. Peço desculpas aos cruzeirenses pela minha declaração, e aos atleticanos pela ofensa, mas os torcedores do Galo mereciam um time melhor. A paixão dessa massa me contagia.

Meu amigo até tenta me contar quem é quem em cada equipe e tudo mais. Zagueiros, centroavantes, laterais, defesa e afins. “Tá vendo aquele cara ali? É com ele que a gente tem que se preocupar. É o melhor jogador deles”. É... Não me interesso por futebol, contrariando o sangue brasileiro.

Comecei a reparar nos jogadores então. Ao que parece, a maior parte é de origem pobre e talento de sobra. Conseguiram tornar o sonho de infância em profissão reconhecida. Se antes eles jogavam bola com os pés descalços num campinho de terra batida, agora vestem as melhores chuteiras e são considerados quase heróis nacionais ao pisarem no tapete verde (melhor não render esse assunto). Para os presentes no Mineirão naquela hora, além de bilhões de outros fanáticos pelo mundo, futebol é tão importante quanto a própria vida. Não importa se o sol se extinguir ou explodir amanhã, para isso os estádios são equipados com iluminação artificial e os clubes tem uniformes para dias frios. Tanto faz o que acontece no resto do mundo, tem um jogo de futebol agora.

Novamente me divertia com as torcidas quando ouço um coro diferente e pessoas perto de mim gritando: “Pênalti!” Era a chance do Galo começar uma virada. Confirmando as probabilidades: Cruzeiro 2X1 Atlético. “O Galo é o time da virada/O Galo é o time do amor” Nunca me esqueci dessa música apesar de ter escutado tantas naquela tarde. Volto a dizer que essa torcida me contagia. Depois disso consegui me concentrar no resto do jogo e cheguei a gritar pelo time. “O Galo tem 15 minutos pra fazer outro gol. Vamo lá Galo!”, meus amigos se desesperavam junto com os atleticanos ao redor. Ao lado, minha amiga não parava de sorrir.

Não foi dessa vez. Daquele clássico o Cruzeiro saiu vitorioso. Enquanto a torcida do Atlético ia deixando o local, a do Cruzeiro comemorava.

Eu? Estava feliz da vida. Nunca imaginei que fosse gostar tanto de ir a um jogo. Os mais de 90 minutos passaram numa velocidade incrível. Confesso que uma partida de futebol é emocionante. Por fim, admito também que espero que essa tenha sido apenas a minha primeira visita ao Mineirão. 

 

Baseado em: É uma Partida de Futebol, da banda Skank, letra de Samuel Rosa e Nando Reis. Faixa 1 do disco O Samba Poconé, de 1996.

Escrito em: 05 de maio de 2010.

Revisado por: Jú Afonso (http://eumundoafora.blogspot.com/)

 

Skank - Uma Partida de Futebol from TvZERO on Vimeo.