10.1.10

É tão estranho te ver assim, imóvel, gélida, pálida. Sem um sorriso no rosto. Alguém que contagiava qualquer lugar com sua alegria de viver, mesmo quando já estava mais debilitada. Acho que essa é a primeira vez que a vejo em um ambiente de tristeza e dor, com uma atmosfera tão pesada. Pessoas queridas choram compulsivamente. Apesar de tudo, você ainda me parece doce e gentil. Como sempre.

Sentado aqui ao seu lado, lembro da nossa felicidade há pouco mais de dois anos. O dia do nosso casamento. O céu estava pintado com um azul incrível. O entardecer de hoje com um belíssimo vermelho. Quem poderia imaginar o que estava por vir.

Lembro perfeitamente de quando nos conhecemos. Um grupo de amigos em comum nos apresentou. Não te deu tanta atenção naquele dia. Nos encontramos algumas outras vezes e depois de algum tempo começamos a namorar.

Adorava sua ingenuidade, sua timidez, não saber o que fazer em alguns momentos. Seus segredos e ambições. Sua personalidade forte me encanta. Tivemos nossas discordâncias, algumas recorrentes, o que só nos fortalecia e nos encaminhava para o casamento.

Com a mesma perfeição minha memória guarda os primeiros sinais da doença. Cansaço, fraqueza, queda de cabelo, emagrecimento. Você insistia que não era nada, que era estresse, que ia passar. Conversei com alguns médicos e te convenci a se consultar com alguns deles, que deram o mesmo diagnóstico. Lúpus, em estágio avançado. Você estava caminhando rapidamente para a morte.

Nunca saí do seu lado. Todos os dias eu te visitava pelo menos duas vezes no hospital, quando você estava lá. Enquanto trabalhava e você estava em casa, ligava durante todo o dia. E sempre havia alguém te acompanhando. Eu, os seus e os meus pais, irmãos e familiares. A visita de amigos era constante. Flores vistosas e cheias de vida enfeitavam não só o quarto, mas a casa toda. Elas te deixam mais feliz. Hoje você também recebeu várias.

Todo o tempo os médicos avisavam “A luta não é fácil”, mas não imaginava que seria tão difícil. Vê-la se apagar um pouco mais todos os dias era desesperador. Há pouco estávamos aprendendo a viver sozinhos, fazendo planos de uma família. “Você tem que ser forte! Ela precisa de você mais que nunca.” Era o discurso que escutava o tempo todo. Sempre que podia pesquisava sobre sua doença. Procurava tratamentos alternativos e no exterior. Aquilo não podia estar acontecendo. Eu não podia te perder. Médicos tentavam me tranqüilizar o máximo possível. Não era suficiente. Não é justo. Eu não podia te perder.

Preciso te pedir desculpa. Não fiz o suficiente. Só te peço uma única coisa. Volte pra mim. Diga-me uma última vez que me ama. Eu te amo tanto.

Novamente as pessoas me dizem que devo ser forte. Porém agora acrescentam que sou jovem. Que tenho muita vida pela frente. Discordo delas. Não há vida sem você. Estou indo te encontrar, para voltarmos ao início.

Baseado em: The Scientist, da banda Coldplay, letra de Berryman/ Buckland/ Champion/ Martin. Faixa 4 do disco A rush of blood to the head, de 2002.
Pedido de Fer Mügge.

Escrito em: 09 de janeiro de 2010.

Meu erro: De novo. Desculpem o atraso. Viajei mas achei que daria pra postar de lá, mas Itaúnas não tem internet! hahaha

9 comentários:

  1. Negaaaaa, que orgulho!!!!todos os contos estão lindos!!!!tem tornado as musicas relacionadas muito mais importantes para mim!!!!
    lindo!lindo!lindo!
    to amando!!!
    beijo
    da Renatinha!!!

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  2. Me lembrou um filme ótimo: "As cinco pessoas que você vai encontrar no céu". Não sei se vc conhece, mas acho que vai gostar Saritcha =) e mais uma vez, lindo!

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  3. nooossa neeega...que triste...mas MUITO lindo!!!
    o blog ta maravilhoso!!!
    muiito original mesmo a ideia desse blog, continue brilhando nega!
    bjosss!

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  4. pooooxa...tenho mto o q dizer naum...só isso: Minha amiga ,meu orgulho!

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  5. Nossa, acho q é meu favorito. Se bem que a cada um novo q vc escreve, supera o antigo. Mas esse... Fantastico. Triste, claro. mas real. Já era uma das minhas músicas favoritas, e agora entao. Parabens Sarah! to esperando o próximo já!

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  6. Arrepiei... sério!

    Eu pensei nessa música! Yeah! Hahahaha. Quase nunca adivinho, mas tava tão triste que essa música virou fundo musical do seu texto, ce acredita?

    Nem deu preu ler a tempo antes, mas ficou ótimo! Vc é um sucesso!

    Beijos!

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  7. quase chorei!!! mto lindo!!!
    me lembrou "House", qdo ele diagnosticou uma mulher com lúpus
    saudads de vc sarinhah!
    bjo

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  8. "Estou indo te encontrar, para voltarmos ao início."

    "Diga-me uma última vez que me ama"

    "mas não imaginava que seria tão difícil"

    pegou trechos da musica...

    muito massa!

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