14.11.09

Tudo ficou mais aparente, e insustentável, depois que a única filha saiu de casa para cursar direito em uma universidade federal do interior. O típico casal de classe média já estava se aproximando das bodas de prata, apesar de ainda estarem nos quarenta e poucos. Até então ele tinha dado a ela uma vida simples, mas completa. Uma filha linda que a enchia de orgulho. Suas amigas ainda esperavam um futuro como o dela.

Com o passar dos meses, ela foi percebendo que já não era tão feliz. As crianças do hospital, no qual trabalhava como enfermeira, já não traziam a mesma alegria de antes. Gostava de quando dedicava mais horas a elas, entretanto, o marido pediu que encerrasse sua carreira. Não aceitou, mas diminuiu o tempo gasto no cuidado dos pequenos. Agora ela sonha com uma vida diferente. Só ela e a filha. Inconscientemente não imagina o marido nessa nova fase.

Percebe que já não o ama como há vinte e poucos anos. Quem sabe não é hora de viver novas aventuras, novos amores... Mas lhe falta algo. Queria ter a coragem de antes, a que teve quando enfrentou a família por casar-se “cedo demais”, por constituir uma família “antes do tempo”. Queria recuperar o que um dia chamaram de “falta de juízo”. Ele costumava apoiá-la em seus sonhos. Sem a filha em casa fica mais fácil perceber como as coisas não são mais as mesmas.

Quer mudar. Sabe que quer. Junta um resto de coragem e alguns objetos carregados do que ela chama de valor sentimental. Aproveita o sono dele depois do almoço de domingo. Sai.

Passeia pela cidade. Ruas, bares e parques estão repletos de famílias de todas as formas, amigos a tagarelar, casais de todas as idades. Sente falta dos amigos que há muito não vê, da infância feliz da filha, de quando era uma jovem namorada apaixonada caminhando abraçada ao único homem que teve. Apesar das nuvens mancharem o azul do céu, está um dia bonito. Ela senta em um banco do parque e aprecia a paisagem e os que por lá passam.

Olha o relógio do prédio, 15h30, hora de voltar para casa. Já não é mais tão corajosa. A realidade fala mais alto. O discurso elaborado durante o caminho de ida se desfaz no de volta.

16h. Ela abre a porta. Crisântemos foram cuidadosamente deixados em um belo vaso, presente do casamento. O apartamento parece ter uma atmosfera mais leve que a habitual. Ele a abraça e lhe dá um beijo carinhoso. Ela corresponde com um “Eu te amo” que já soou mais vivamente. Não pode encontrar homem melhor.

Baseado em: Better Man da banda Pearl Jam, com letra de Eddie Vedder. Faixa 11 do disco Vitalogy de 1994.

Escrito em: 20 de outubro de 2009



6 comentários:

  1. meu preferido por mtoooooooooo tempo!
    AMEIIII!!!!!!

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  2. ei sarinhah!
    realmente mto mto bom!!! acho q é meu favorito tb!^^
    bju

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  3. As mocinhas acima roubaram minha fala.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. aaaiii, juro que arrepiei no final! hahaha (eh, sou emotiva =p)

    ouvi a musica enquanto lia o texto (ADORO eddie vedder) e terminei de ler bem no fim da musica. foi LINDO!(sotaque de caetano, por favor =p)

    vc tem a veia hein sara?! continue... parabens! =D

    bjos!!

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  6. ah, ali encima eu esbarrei o mouse na lixeirinha sem querer! (ô beleza)

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