1.11.09

2005. Havia recebido meu primeiro “salário” e queria comprar algo que, sempre que visse, lembrasse dele. O primeiro salário que minha mãe recebeu também teve um significado. Foi só com ele que ela finalmente pode começar a usar brincos. Até os vinte e poucos anos a orelha dela não era furada. Enfim, isso eu não podia fazer, a minha foi maldosamente furada quando eu ainda era um bebê recém-nascido, como o de costume.
Pensei durante um bom tempo o que faria, até porque não era tanto dinheiro assim – R$50,00 por algumas fotos para serem divulgadas como propaganda de escolas católicas. Há muito tempo estava querendo um cd (original, é claro) do Bon Jovi. Já tinha cansado de sempre pegar emprestados os de uma prima mais velha que, a propósito, até tinha ido ao show da banda em 1995. Agora queria o meu.
Depois de muito pensar, de novo, decidi pelo New Jersey, de 1988. Tinha uma das músicas que eu mais gostava “Born to be my baby”, além de que também adorava o álbum como um todo, sem comentar a faixa final, “Love for sale”, divertidíssima. Finalmente, um dia, voltando do colégio, passei no shopping e comprei. Agora meu “salário” tinha um formato concreto. E eu, o MEU cd do Bon Jovi.
Fui para a casa do meu namorado saltitando e cantarolando as músicas. O céu estava especialmente bonito naquela tarde. Ao chegar ao meu destino, sorrindo e com o cd nas mãos, ele não percebeu a minha felicidade extrema e voltou para o jogo novo do brinquedinho preferido dele. Quis acreditar que aquilo tinha sido apenas uma distração momentânea. Sentei no chão próximo ao seu lado e ele, automaticamente, estendeu a mão me oferecendo o outro controle, mas recusei. Agora tinha conseguido atenção.
“Olha o que eu comprei!”. “Bon Jovi?!”. Minha alegria foi ao chão. “Sim, Bon Jovi. Qual o problema?”. Ele não se deu o trabalho de responder. “Você já ouviu esse disco?”, insisti, mesmo sabendo que sua resposta seria negativa. A banda estava novamente no mainstream com Have a Nice Day, álbum, música e clipe (bem interessante por sinal). Apesar de já estar falando sozinha (o jogo já o tinha novamente), continuei argumentando que a banda, naquela época, era muito diferente, que ele deveria escutar, principalmente antes de criar uma opinião.
Estava tão indignada com a atitude preconceituosa dele que nem ao menos me despedi. Dei-lhe um beijo na bochecha e fui embora. Retomei meu caminho. O dia continuava o mesmo, o céu ainda estava um azul impressionante. Minha decepção foi tão grande que a atmosfera ao meu redor ficou mais pesada.
Cheguei em casa, abri o cd – já sem a emoção com a qual o faria normalmente -, coloquei no aparelho de som e apertei play. Deitei na cama ao som de “Lay your hands on me”. Os anos 80 estavam de volta e com eles o meu humor há pouco perdido.

Baseado em: Nunca diga da banda Pato Fu, com letra de Frank Jorge (da banda Graforréia Xilarmônica). Faixa 3 do disco Televisão de Cachorro de 1998.

Escrito em: 28 de setembro de 2009

9 comentários:

  1. Sarinha!
    sua segunda 'historia', vc criou um contexto para uma letra de musica, um contexto singelo e inocente, uma hisotoria tao leve, simples e que descreve um pouco das relacoes que criamos, conflituosas, amorosas, dificeis, possessivas, prazerosas, complexas ou simplismente simples. relacoes entre o nosso prorpio eu e entre o(os) outro(s).... me fez lembrar o espetaculo "(not) a love song" ALAIN BUFFARD que assisti sexta-feira dp procura no youtube os videos vc vai gostar! e um espetaculo de danca tah....

    bjoss

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  2. nina, simplesmente adoro seus comentarios inteligentes, nerds... tão história! hehe ^^

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  3. Sarinha, vou tentar de novo te mandar esse comentario... Nunca dei certo com blogs!!! Hiauheuihauiheiauheiuahuieh!!
    Adorei os seus dois posts!!
    Particularmente gostei mais do primeiro, mas esse tbm ficou fantastico!! pode postar sempre q eu vo ta de olho!! =D
    Te dou a maior força pra ir em frente, vc escreve super bem e eh super talentosa!! =D
    Beeijos!!
    Ju.

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  4. Também tenho com o Bon Jovi o mesmo preconceito que o seu namorado. A história me fez lembrar do primeiro disco que comprei na vida: Big Ones, do Aerosmith. Também tive uma decepção grande. No mesmo dia em que o comprei, minha mãe me proibiu de ouvi-lo, já que o som era do meu irmão e a gente tinha que respeitar as coisas dos outros e blábláblá.

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  5. Haaaa
    Tem alguns ganchos com a realidade essa história, num tem? Por exemplo, o negócio da foto pro colégio católico...e talvez o cd tb?
    hehehehe
    Ta muito bem escrito o blog nega!! parabens!!
    bjao!

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  6. ei sarinha!adorei o conto! mto criativo e bem voltado pra realidade!!
    pato fu então?? dispensa comentários! apesar dessa faixa não ser a minha preferida do album televisão de cachorro ela é bem gostosa tb!^^
    bjus linda! saudads!

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  7. OI SARAH!!! RECONHEÇO PERSONAGENS DESSA HISTORIA... PRINCIPALMENTE EU!!! PARABÉNS PELA CRIATIVIDADE... BJS

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  8. Fala Sarinha,
    parabens muito bom, gostei de mais...
    Beijaooo

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  9. Tinha de ser um homem frustrado com o comentário da namorada, não o contrário! Frustração masculina é um sentimento completamente diferente de angustia feminina, caríssima. Mas tá ótimo tb!
    hehe

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