24.4.10

Diagnóstico: Paixonite Aguda

Já faz um bom tempo que você terminou tudo comigo, eu sei. Cinqüenta e dois dias para ser mais precisa. Acho que dá pra perceber que temos um problema aqui. Infelizmente sei que você já não me ama mais, mas... É simplesmente impossível esquecer você e tudo que vivemos como alguns persistem em aconselhar. Todos os dias, cada um deles desde então, eu penso em você. Choro por você. Rezo e imploro por você.

Minha mãe, como você deve imaginar, diz que eu não deveria me acabar assim. “Existem muitos homens por aí. Melhores que seu ex, por sinal”. Ela é incapaz de perceber como está equivocada. Insiste que você não me merecia e repete o discurso de como um velho amigo meu seria meu par ideal. Apesar desse amigo realmente ter sido o único homem no qual acreditei logo que nosso relacionamento acabou, essa chance apenas não existe. Sim, admito que ele saiba do que preciso (ou quase), no momento em que preciso e o que fazer na hora exata. É gentil com as mulheres e tudo mais, mas, honestamente, nunca haveria essa possibilidade. Passamos nossa infância juntos, somos quase da mesma família. Enfim, não mãe. E volto a chorar, rezar e implorar.

Por mais que seja falso, queria ouvi-lo dizer que me ama mais uma vez. Não me importo em ser enganada. Apenas finja que me ama. Ou algo do tipo. Agora que me deixou, diga que precisa de mim, por favor. Não quero saber o que as pessoas falam ou tentam “avisar”, como costumam dizer. Me deixe iludir, acreditar que ainda é possível. Você não sai da minha cabeça. Passo todo o tempo apenas chorando, implorando por você. Porque não dar uma nova chance? Ainda tento encontrar uma justificativa para tudo ter acabado como acabou. Não me importo com o que pode acontecer, só não quero que você se vá.

Sabe, desde aquele dia ando pensando - desesperadamente, eu diria – no que foi que eu posso ter feito de errado. Estávamos tão bem, mas não mais que de repente, você se foi. Há alguma coisa diferente que eu poderia ter feito? Qualquer coisa que faça você voltar. Todas as vezes que levanto da cama depois de uma noite em claro, com os olhos inchados e o travesseiro molhado de tanto derramar lágrimas lá vem minha mãe: “Ele não te merece. Falo isso para te proteger. Não quero que se machuque.” Primeiramente tenho certeza que sim, ele me merece e quem sabe disso sou eu. Merece mais que nenhum outro. Até porque não quero nenhum outro. Mais uma coisa: deixe que eu quebre a cara se for o caso. Não quero que me proteja assim. É tão difícil de aceitar?

Não me importo mais. Faça o que quiser, mas me deixe acreditar que você ainda me ama. Apenas fique comigo e diga que precisa de mim. Eu sei que precisa. É só uma simples frase. Não entende que nada mais me interessa que não você? Vá em frente, me iluda.

Baseado em: Lovefool, da banda The Cardigans, letra de Nina Persson e Peter Svensson. Faixa 7 do disco First Band On The Moon, de 1996.

Escrito em: 23 de abril de 2010.

Revisado por: Jú Afonso (http://eumundoafora.blogspot.com/)

Nota da autora: Quer ver o início dessa história? Clique aqui.

10.4.10

Eco chato na hora do almoço

           Consegui chegar mais cedo hoje. Sem o trânsito caótico comum pra hora do almoço cheguei em casa 11h30, mais ou menos. Como não tinha nada pra fazer enquanto espero minha lasanha esquentar no microondas , me distraí com as pessoas que via pela janela da sala, indo e vindo por aí. Comecei a pensar em algumas coisas...

Sei que não posso falar muito. Já fui assim também. Mas se eu mudei, porque raios vocês não conseguiriam fazer o mesmo? O mundo moderno é realmente fascinante. Tecnologias incríveis, avanços científicos milagrosos, laços sociais inacreditáveis. Tenho uma leve impressão que nosso planeta não suporta mais esses jogos que inventamos e adoramos. A situação parece estar ligeiramente crítica, não acha? É o apocalipse, 2012.

            Quando olhamos um pouco à nossa volta, o que mais vemos? Pessoas se matando, outras morrendo, algumas corrompidas, crianças e famílias passando fome, sofrendo e tudo mais a que tem direito. Sem contar nas chuvas, ventanias, furacões, terremotos, maremotos... Esqueci alguma coisa? Tenho quase certeza que alguma coisa está errada.

            Já reparou como a hipocrisia ainda comanda a sociedade. Sente-se num banco de praça e observe. Eles passeiam felizes, fazem de conta que está tudo bem, tudo na mais perfeita normalidade. Apesar de que, pensando melhor, para eles as coisas não estão tão ruins assim. Que se danem seus descendentes. Já estarão longe, debaixo da terra quando a situação começar a incomodá-los de verdade. Ainda não se sentem atingidos por todo o caos no qual estamos vivendo.

            Infelizmente continuamos incapazes de perceber que o necessário é uma ação conjunta. Não vamos conseguir resolver nossos problemas sem atitudes em grupo. Certa vez li que a sociedade só existe devido à interação entre aqueles que a compõe (algum texto de Teorias da Comunicação, provavelmente). Acordemos para a vida real – antes que até mesmo ela deixe de existir.

            Outro dia fui jantar em um restaurante que sempre frequento. Adorava aqueles pratos exóticos, com frutos do mar de todos os oceanos, especiarias nunca vistas nas feiras e frutas de países subdesenvolvidos. Uma comida realmente saborosa não se acha em qualquer lugar! Quando o já conhecido garçom me trouxe o cardápio me assustei. O menu estava um tanto quanto mudado. Meu quase amigo explicou que os pratos antigos estão fora de moda, mais do que isso, os responsáveis pelas compras enfrentavam grande dificuldade em encontrar os ingredientes clássicos do restaurante. Fosse para vender já com algum tratamento industrializado ou mesmo o in natura. Aliás, nos últimos anos comprar produtos “in natura” passou a ser uma das atividades mais áridas e raras que existem na culinária, já reparou?

Costumávamos nos divertir bastante mundo afora. Tanto que não nos restou quase nada. Agora o planeta já não nos dá opção. Temos que seguir as novas regras se quisermos continuar por aqui. Só acho que parte de nós ainda não entendeu isso. Uma parcela realmente significativa, diga-se de passagem. Tivemos a capacidade – e a insanidade – de alterar o equilíbrio de algo tão grande quanto a Terra! Quanta burrice junta.... Até me desanima.

            Às vezes paro e fico imaginando o que será o mundo daqui algumas décadas. Não sei se rio ou se choro da desgraça que está por vir. Precisamos mesmo acordar para a realidade. E com enorme urgência. Aprender com o que já aconteceu, aprender que não podemos continuar assim, que não somos tão poderosos e incríveis como a vida moderna planeja.

            Enfim, isso não é tão importante, apenas uma divagação...

            3... 2... 1... PIIIIIIIIIIII... [FINAL]    [FINAL]         [FINAL]

            Lasanha pronta! Aceita um pedaço?

Baseado em: When You Gonna Learn (Digeridoo), da banda Jamiroquai, letra de J. K.. Faixa 1 do disco Emergency On Planet Earth, de 1993.

Pedido de Jú Afonso.

Escrito em: 07 de abril de 2010.

Revisado por: Jú Afonso (http://eumundoafora.blogspot.com/)